sábado, 5 de março de 2011

A NOVA ARCA DE NOÉ






Encravado no gelo, o cofre vai abrigar sementes com o objetivo de preservar toda a vida vegetal presente no planeta. Essa caverna de alta tecnologia é equipada com portas de aço blindadas, câmeras e detectores de movimentos e será monitorada a distância.

O cofre tem capacidade para armazenar e conservar até 4,5 milhões de amostras de sementes e 2 bilhões de sementes de todas as espécies cultivadas pelo ser humano. Esse patrimônio, mantido em segurança máxima, estará protegido de catástrofes naturais e até mesmo de guerras nucleares. Sementes transgênicas não entrarão nesse santuário vegetal congelado.

O projeto já recebeu cerca de 100 milhões de sementes doadas por cem países e incluirá, obviamente, o Brasil.A mudança climática no planeta foi o que impulsionou o projeto, mas não foi o único motivo. Nos últimos anos, mais de 40 países tiveram os seus bancos de sementes destruídos em guerras e desastres naturais e ecológicos.

Mais a pergunta é : O que realmente esse cofre representa, para que ele foi feito? O governo espera reconstruir algo no futuro , mais poucos estão vendo isso.

O projeto, impulsionado pelo Governo norueguês, pelo Fundo Mundial para a Diversidade de Cultivos e pelo Banco Genético Nórdico, permite a criação de um depósito seguro de bancos de dois exemplares de sementes de cultivos alimentícios. Com isso, ele garante a sobrevivência frente a fenômenos como a mudança climática e catástrofes naturais.

Situada perto de Longyearbyen, em uma ilha do arquipélago norueguês de Svalbard, a arca do "fim do mundo" ou "Arca de Noé", foi escavada a 130 metros de profundidade em uma montanha de rocha sedimentar, impermeável à atividade vulcânica, a terremotos, à radiação e à elevação do nível do mar.




O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, e a vencedora do prêmio Nobel da Paz 2004, a ativista queniana Wangari Maathai, foram os encarregados de colocar em seu interior as primeiras sementes, variedades de arroz de 104 países.

Na cerimônia, à qual compareceu o presidente da Comissão Européia (CE, órgão executivo da União Européia), José Manuel Durão Barroso, Stoltenberg chamou a construção de "bloco fundamental da civilização humana".

A arca acolherá, a princípio, 268 mil amostras de sementes - de uma capacidade total de 4,5 milhões de amostras e 2 bilhões de sementes, que foram acondicionadas em pacotes vedados dentro de caixas fechadas hermeticamente em cada uma das três dependências da câmara.

As sementes permanecerão armazenadas a uma temperatura de -18º Celsius, que garante baixa atividade metabólica e perfeito estado de conservação por séculos; em caso de falta de energia, o permafrost ártico (camada permanentemente gelada) do exterior atuaria como refrigerador natural.

As sementes só poderão ser extraídas da arca se todas as suas fontes tiverem sido destruídas ou se esgotado, a não ser que os países doadores - que são os proprietários das sementes - assim o requeiram.

O Governo norueguês assumiu a construção da instalação, orçada em 50 milhões de coroas norueguesas (US$ 9,4 milhões), enquanto o transporte das sementes e a manutenção da arca ficarão a cargo do Fundo Mundial para a Diversidade de Cultivos.

Operários dão os toques finais na porta da "caverna do juízo final", em Svalbarg: segurança sem a necessidade de guardas.

O projeto é das Nações Unidas em parceria com o governo da Noruega e financiamento de Bill Gates, fundador da Microsoft e um dos homens mais ricos do mundo.

O lugar está sendo chamado de "caverna do juízo final". Na verdade, o banco de sementes não terá utilidade apenas se houver uma hecatombe mundial. Há outros usos para as amostras de Svalbard. O mais imediato é servir como um reservatório genético, que poderá ser utilizado por cientistas para experimentar cruzamentos e desenvolver novas variedades de plantas. Uma espécie cultivada no passado mas hoje ignorada pelos agricultores pode conter um gene que a torna resistente a pragas. Nesse caso, a engenharia genética permitiria introduzir tal gene em uma variedade usada na agricultura, aumentando sua resistência a doenças. Também seria possível desenvolver plantas adaptadas a um mundo mais quente e com menos água. "Quanto maior for a variedade de sementes à disposição, maior será a capacidade humana de se adaptar ao aquecimento global, no futuro", disse a VEJA o americano Cary Fowler, diretor do Fundo Global para a Diversidade de Sementes, o nome oficial do projeto.

Fowler, que fica a maior parte do tempo em seu escritório em Roma, controlará a caverna remotamente, por meio de câmeras e sensores de vigilância. Depois que o estoque de sementes estiver colocado em três câmaras a 18 graus negativos, a caverna ficará sem funcionários nem seguranças. De novembro a janeiro, durante a noite polar do Ártico, as portas permanecerão sempre fechadas. Novas remessas serão levadas no verão. Os idealizadores do projeto apostam que, como fica em uma ilha remota, gélida e pouco povoada, o depósito está seguro. A caverna não será o único reservatório para as sementes, já que existem outros bancos espalhados por 75 países. Seu papel é ter uma cópia de segurança de todas as sementes dos demais depósitos. Segundo Fowler, mais da metade deles está em situação de risco devido a guerras, erros humanos e infra-estrutura precária.

Desde que o homem começou a cultivar os alimentos em vez de apenas coletá-los na natureza, as espécies foram modificadas para se tornar mais nutritivas e produtivas. Esse processo, conhecido como domesticação das plantas, teve início 11.000 anos atrás no Oriente Médio e ganhou força com a descoberta de técnicas agrícolas rudimentares. Com lâminas fincadas em pedaços de madeira ou de osso, os homens colhiam grãos com mais agilidade. Cestos ajudavam no transporte e tábuas porosas facilitavam a remoção da casca dos grãos.

A agricultura multiplicou entre dez e 100 vezes a produção por hectare, em comparação com as mesmas plantas na natureza. Hoje, caso a humanidade resolvesse abdicar da agricultura e voltasse a viver da caça e da coleta, estima-se que um terço da população ficaria sem comida. Um efeito colateral da opção por espécies cada vez mais produtivas e adequadas à agricultura e, mais recentemente, às exigências do mercado foi a queda na variedade de vegetais que compõem o cardápio da humanidade. Hoje, só o trigo, o arroz e o milho são responsáveis por mais da metade da dieta calórica mundial obtida com o consumo de vegetais.

Das 7.000 espécies de plantas já cultivadas pelo homem em algum momento de sua história, apenas 150 continuam a ser plantadas. Para atender aos padrões de qualidade e garantir colheitas elevadas, as sementes de uma mesma espécie produzidas atualmente também são muito parecidas entre si, o que eleva o poder destrutivo de um novo fungo ou inseto. O banco de sementes de Svalbard será a fortaleza à qual pesquisadores do mundo todo poderão recorrer em caso de emergências como essas. O depósito terá sementes silvestres e também as domesticadas. O Peru já enviou amostras de batata; a Colômbia, de feijão; e o México, de trigo e de milho.

Até o momento, as Filipinas foram o país que mais contribuiu, com 70.000 amostras de arroz. O Brasil também deve mandar em breve amostras de espécies conservadas pela Embrapa. Todas as sementes continuarão sendo propriedade dos países que as enviaram. "São amostras muito valiosas, nas quais foi investido muito trabalho por séculos", diz o embaixador Jorio Dauster, do Rio de Janeiro, membro do conselho do Fundo Global para a Diversidade de Sementes. Na fria Svalbard, esse tesouro estará a salvo.

Parece filme de ficção científica, mas é a mais pura realidade. Um projeto da Global Crop Diversity Trust já está sendo chamado de a “nova Arca de Noé”. Localizado na Noruega, bem próximo ao pólo norte, foi construído um cofre a 70 metros de profundidade, com temperaturas que variam de -10ºC a -20ºC.